APRESENTAÇÃO


Falar de José Régio é evocar um escritor que dispensa apresentações, por ser reconhecidamente um grande protagonista da cultura portuguesa do século XX. Autor sumamente versátil, o diretor-fundador da revista Presença sempre manifestou a aspiração para a unidade na sua Obra e a simultânea tendência para a sua expressão numa multiplicidade de géneros literários. De facto, considerando “a literatura a expressão mais livre, mais variada, mais completa, que de si dá o homem”, ele resolveu “nunca deixar de exprimir o quer que nele pedisse expressão”. José Régio foi, portanto, um dos escritores portugueses mais dotados, revelando, numa aparente monotonia (especialmente temática), uma extraordinária variedade de tendências e meios de expressão. Sua obra não é linear, é um complexo entrelaçamento de planos e perspetivas em que não é legítimo isolar um aspeto ou uma forma particular. O seu esforço criativo produziu, em vida, oito recolhas poéticas (a que se juntam as três publicadas postumamente, para um total de quarenta e cinco edições), doze volumes de prosa de ficção (com trinta e seis edições), seis publicações de obras de teatro (dezasseis edições), além de dez textos de prosa não ficcional (ensaios, textos teóricos e didáticos, textos de crítica, um diário e ainda o volume memorialístico Confissão dum homem religioso, perfazendo um total de dezoito edições), sem esquecer as antologias, os prefácios a livros alheios e todas as publicações esparsas em revistas e jornais – números que testemunham o calibre da obra regiana e a sua ampla receção pública.

 

O crítico José Régio, o que definiu nas páginas da Presença as linhas de um novo conceito de arte, foi indiscutivelmente moderno, tendo um papel fundamental na valorização e divulgação dos melhores valores do grupo de Orpheu. Mas é importante observar o papel que Régio atribuía à tradição literária na própria afirmação da modernidade. Aliás, também nos seus ensaios teóricos, ele não opôs o espírito moderno ao espírito clássico, afirmando que “o modernismo superior é individualista e clássico”. 

Individualidade forte e não disposta a abdicar dos seus ideais, Régio marcou toda a sua vida literária por um espírito de independência perante escolas e mestres. A relação de José Régio com os expoentes das gerações mais jovens nunca foi totalmente pacífica, por causa da sua atitude naturalmente didática e da sua recusa do elogio fácil. Ainda que acusado de psicologismo e subjetivismo, ele sempre defendeu a sua conceção de arte como livre e incondicionada expressão da personalidade do artista e o seu fundamental humanismo, “pois todo o verdadeiro artista é superiormente humano” e “todo o homem, por excecional que seja, fala do humano ao falar de si”.

 

A trajetória existencial de José Régio terminaria a 22 de dezembro de 1969. Em 2019 serão 50 anos desde que começou a posteridade do grande escritor de Vila do Conde. Mas, parafraseando o verso do poema “Os Mortos”, se sempre para mim – para todos nós que lemos José Régio e que seguimos aprendendo com os seus textos e com o seu exemplo de intelectual agudo, aberto e inteiro – ele continua vivo, então vale a pena reunirmo-nos neste CONGRESSO INTERNACIONAL 50 ANOS - JOSÉ RÉGIO para celebrar a sua obra e o seu legado, mas sobretudo para refletir sobre a atualidade da sua figura.


Università degli Studi di Padova

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